29 de abr. de 2012

Picada de escorpião


Confesso!
-Não sou escritor,
não domino as letras,
e nunca vivi das palavras.

Não faço rimas,
nem canto versos
e nunca me embriaguei
com esse tal de absinto.

Sou só um admirador
que cansou das vielas do admirar.

Sou um tolo apaixonado
que só tem talento para se apaixonar.

Pego caneta.
Coço a suada cabeça.
Olho por horas a brancura angustiante do papel
e... nada!

Acendo um cigarro,
lanço a fumaça no caos do espaço
com a ira de um foguete a fragmentar
E... nada!

Encerro o esforço ocioso
fracassado a me perguntar:
Aonde está toda tinta do meu sentimento?
Aonde permanece em mim esse ser poeta?
Não o encontro,
não o vejo,
mas sinto como uma picada de escorpião
tendo seu veneno acre a me cegar,
lacrando a minha alma com angústia
de um dia poder registrar 
toda essa agonia profunda que é a escuridão.



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