29 de abr. de 2012

Maquillage


Eu vejo braços, pernas e cabeça.
A abóbada das carnes jovens.
A força nas vias dos segundos
e algo que não compreendo.

Eu vejo a boca
e não olho mais os olhos,
não mais vejo o medo,
não mais percebo a dor,
e, assim, não mais o amo
como deveria amar.

Mas algo deixei de ver.
O quê?
A insônia,
o ronco alto,
a apneia de uma noite longa
a se transformar em agressão diurna?

Eu digo “chega!”,
“vá embora!”...

E alguém que amo
se perde no verbo atroz
de um coração cego,
de uma alma pouca,
que confiou nos olhos
e só viu a maquiagem à ludibriar
perfeição.


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