29 de abr. de 2012

Fotogenia de um pierrô


Estou cansado e não deveria escrever,
mas não tem jeito,
continuo...

Estou cansado e meio bêbado de sono,
mas não tem jeito,
continuo...

a chuva agua toda essa agonia
com suas gotas calmantes
a provocar atrito com o meu eu,
mas não tem jeito,
continuo...

As águas arrastam os meus pés.
O volume da massa líquida é extremo
e a luz traidora fugiu primeiro,
mas não tem jeito...
Continuo...

O frio dobra a minha espinha
e os sapos invadem a minha alcova,
as cobras se enroscam de maneira louca
nas minhas pernas esquecidas,
mas não tem jeito,
continuo...

A ameaça do teto desabar é um incômodo.
Ouço acoa de um cão perdido nos destroços.
A massa corrida escorre levantando spray de lama,
mas não tem nenhum jeito,
continuo...

E continuo a escrever sozinho,
pois a solidão é traje que me cai bem.
Ignoro todo pretérito filosofante,
para pôr letra por letra
o soletrar desgraçado dessa fotogenia
que se chama sobrevida de um pierrô.


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