14 de abr. de 2012

O Perigoso mundo irracional


Photo Credit: Osvaldo Barreto

Pernambuco está assombrado com o caso de canibalismo que ocorreu em Garanhuns. E não é por menos. É bizarro demais pensar que haja pessoas que possam comer as outras por causa de dogmatismos (estou claramente evitando falar a palavra “religião” para não confundir as coisas), mas isso aconteceu e aconteceu não em mil oitocentos e lá vai bolinha, mas hoje, agora.

Que rito é esse que esquarteja mulheres e faz com que comam a carne das vítimas para purificar a alma? Quando penso em rito, me vem a lembrança que todo ritual religioso, realizado por qualquer grupo, tem a convicção que Deus está ali a abençoar suas ações. Da mesma forma, a fé nos pede para acreditar no impossível, porém, é bom que se diga, não jugo a impossibilidade da existência de Deus (quem sou eu para jugar?) . Ela também nos exige atitudes diante do deus que é a imagem do supremo absoluto, o senhor da história (como defendia Hegel). Não há discordância nos seus desígnios, e por isso, toda religião (ou seita) não se deve falar de democracia. O governo, para essas instituições, é sempre teocrático.

A seita chamada Cartel pregava pela alcovas a purificação do mundo e a diminuição populacional. E tinha uma meta: matar três mulheres a cada ano. Se juntarmos cada informação de forma não sensacionalista, poderíamos traçar um perfil dessa seita e iriamos descobrir, apesar ser bem diferente no seu todo, vários pontos em comum com a religião oficial: Sacrifício, desvalorização do feminino, canibalismo (a oficial é simbólico), profecias.

Parece-me que todas elas também estão ancoradas no elemento trágico: Krishna, Alcestos, Sakia, Indra, Hersus, Bali, Quetzalcóati e, na mitologia grega, Prometeu. Todos eles também foram pregados como Jesus. Existe algo que encanta as pessoas que não pertence a paz, a harmonia ou o próprio amor, mas na dor, na dor cruel, na dor desumana.

O filósofo Nietzsche faz uma interessante abordagem sobre a dor na obra “A genealogia da moral”. Nos mostra como ela foi administrada por vários seguimentos da nossa sociedade com o intuito de perpetuar, nas nossas lembranças, as promessas que outrora nos comprometemos. Ele nos diz: É justamente isso que constitui a longa história da origem da responsabilidade. Vale a pena ir na biblioteca e procurar esse livro.

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