4 de out. de 2008

Mário de Andrade, dia 9 de outubro. (II)

Moça linda bem tratada


Moça linda bem tratada,
Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.


Grã-fino do despudor,
Esporte, ignorância e sexo,
Burro como uma porta:
Um coió.


Mulher gordaça, filó,
De ouro por todos os poros
Burra como uma porta:
Paciência...


Plutocrata sem consciência,
Nada porta, terremoto
Que a porta de pobre arromba:
Uma bomba.


Descobrimento


Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.


Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.


Esse homem é brasileiro que nem eu.

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