9 de out. de 2012

A educação na época de Dom Casmurro

Muitos dos nosso problemas educacionais têm suas raízes fincadas em decorrer de políticas passadas, num passado que se organizou sob a égide da monocultura do açúcar, baseada no latifúndio e no trabalho escravo de índios e negros.

Vemos, nesse período da história, o ensino nas mãos dos jesuítas. Dessa forma, o Rei de Portugal praticamente se desobrigou-se de custeá-lo. Nada muito diferente que temos hoje com as diversas escolas privadas. Por causa delas, as escolas públicas foram sucateadas e se tornaram, numa perspectiva mais positiva, depósito de seres humanos.

Nessa época, a educação tinha a finalidade de garantir o maior número de simpatizantes para catolicismo, sufocando, através da educação (ou alienação), o movimento protestante que já escorria em larga escala no seio da Europa. O ensino era basicamente voltado para formação de novos “soldado”, ou seja, novos sacerdotes, membros da elite rural e comercial existente naquela época.

Todavia, quando o sólido e bem organizado sistema começou a incomodar o Rei de Portugal, pois esse entendia, através da perspectiva de Marquês de Pombal, que esse modelo de ensino estava mais voltado para os interesses da Igreja Católica que da coroa portuguesa, assim, não demorou para ruir. Em 1759 o modelo jesuíta cai por terra. O próximo modelo não ofereceu grandes mudanças. O número de professores era limitado e a elite continuou a frequentar os organizados seminários escola que reproduzia os antigos métodos dos primeiros jesuítas. 

A partir desse momento já percebemos que a educação sempre irá prestar serviço com finalidade de saciar as vontades de um poder dominador. Não há, através desse, o interesse de munir a população de consciência. Sem possibilitar ao explorado a responsabilidade de superar o sistema de produção que os condenava. A felicidade era assim abstrata e localizava-se num mundo celestial. A reforma somente foram reformas pontuais sem nunca atingir o âmago de tais contradições, uma vez que estava a serviço das elites econômicas e sob de um poder conservador. 

Podemos ver, assim, que os estudantes brasileiros, ao longo da história, foram sendo tratados como um objeto de manipulação a serviço da sociedade burguesa. Incapazes de conscientizar, organizar e dirigir a população rumo às mudanças necessárias. Através da nossa própria história, podemos perceber que os estudantes brasileiros sempre foram incapazes de lutar contra o sistema que oprime a população. Pois muitos deles gozavam do direito de possuir algo para transformar tal algo em meio de produção e, a partir desse, um sistemático canal de exploração do trabalho alheio. 

Uma agradável forma de percebermos a as condições de ensino médio ao longo da história é a grande obra do nosso Machado de Assis: Dom Casmurro. Vemos o tratamento dado na questão educacional do personagem principal: Bento Santiago. Ambientado no Rio de Janeiro do Segundo Império, Bento escreve sobre suas reminiscências da juventude, sua vida no seminário. Podemos ver que o personagem principal, um estudante do Ensino Médio, é incapaz de corresponder com a realidade. O próprio testemunho, ou seja, a obra descrita, não passa de uma busca. O que foi que aconteceu? O que está acontecendo conosco? Quem somos realmente? Assim, o autor descreve a essência do mal que é a própria educação alienante que torna o homem desconhecido a si mesmo. O homem não tem mais controle sobre aquilo que ele mesmo constrói através de seu trabalho e tudo se transforma em mercadoria.

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