17 de nov. de 2010

A relação entre a idéia da liberdade e o conceito de causalidade na Ética kantiana.

A liberdade não significa a potência de ser. Não significa a possibilidade de escolher arbitrariamente entre diversos motivos empíricos, mas justamente a independência de tais motivos. Um ato de liberdade não é uma decisão imotivada, que como tal seria arbitrária e fortuita, porém uma decisão fundamentada em motivos puramente racionais. A razão gera, independentemente de conteúdos empíricos, a idéia do dever, e essa idéia pode vir a ser motivo de decisões. O princípio do dever não nos obriga a tomar essa ou aquela decisão, mas expressa que devemos agir conforme o preceito da razão.

Se se concebe a vontade como um “motor”, pode-se afirmar, em princípio, que há vontade sem que haja liberdade ou livre arbítrio. O que se chama vontade pode ser um “movimento natural”. O determinismo da vontade pode estar baseado não só numa certa concepção da Natureza ou do que se qualificou de “causalidade da Natureza”, mas também na idéia de que o ato voluntário está completamente determinado por “razões”. No seu entendimento, o reino da Natureza apresenta um completo determinismo. É totalmente impossível “salvar” dentro dele a liberdade. A liberdade apresenta-se dentro do domínio do número, que é fundamentalmente o reino moral. A liberdade não é uma questão física; é, sim, uma questão moral.

Existe, pois, a possibilidade de uma causalidade pela liberdade. Em seu caráter empírico, o indivíduo deve submeter-se às leis da Natureza. Em seu caráter inteligível, o mesmo cidadão pode considerar-se livre. A ciência natural, segundo ele, não seria possível sem a suposição de que os fenômenos se sucedam de acordo com uma estrita relação da causa ao efeito. A casualidade não se encontra na própria realidade. Mas tampouco pode consistir numa crença fundada no hábito, visto que, neste caso, as leis científicas não seriam universais e necessárias. A causa não está na realidade, mas tampouco está só na mente.

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